sábado, 6 de junho de 2009

No Intercâmbio


Na noite de 1.º de abril de 1954, ao término de nossa reunião, José Xavier, que foi companheiro militante do Espiritismo em Pedro Leopoldo, já desencarnado, desde 1939, e que ainda hoje é um cooperador leal e amigo em nosso Grupo, tomou o instrumento mediúnico e conversou conosco, sobre o intercâmbio com as entidades sofredoras, deixando-nos as impressões aqui transcritas.


No trato com os nossos irmãos desequilibrados, é preciso afinar a nossa boa-vontade à condição em que se encontram, para falar-lhes com o proveito devido.
Vocês não desconhecem que cada criatura humana vive com as idéias a que se afeiçoa.
Quantos no mundo se julgam triunfantes na viciação ou no crime, quando não passam de viajores em declive para a queda espetacular! E quantos companheiros aparentemente vencidos, são candidatos à verdadeira vitória!...
Mesmo entre vocês, não é difícil observar mendigos esfarrapados que, por dentro, se acreditam fidalgos, e pessoas bem-nascidas, conservando a humildade real no coração, entre o amor ao próximo e a submissão a Deus!...
Aqui, na esfera em que a experiência terrestre continua a si mesma, os problemas dessa ordem apenas se alongam.
Temos milhares de irmãos escravizados à recordação do que foram no passado, mas, ignorando a transição da morte, vivem por muito tempo estagnados em tremenda ilusão!
Sentem-se donos de recurso que perderam de há muito e tiranos de afeições que já se distanciaram irremediavelmente do trecho de caminho em que paralisaram a própria visão.
Nos campos e cidades terrestres, a cada passo topamos antigos dominadores do solo, os quais a morte não conseguiu afastar de suas fazendas; magnatas de indústria que o túmulo não separou dos negócios materiais, e homens e mulheres em massa que, sem a veste do corpo, continuam agrilhoados aos prazeres e aos hábitos em que fisgaram a própria alma...
Convidados à revisão do estado consciencial em que se alojam, irritam-se e defendem-se, como ouriços contentes no espinheiro em que moram, quando não se ocultam, matreiros, no egoísmo em que se deleitam, ao modo de velhas tartarugas a se esconderem na carapaça, ao primeiro toque estranho às sensações com que se acomodam.
Se insistimos no socorro espiritual de que necessitam, vomitam impropérios e cospem blasfêmias...
Mas, com isso, não deixam de ser doentes e loucos, agindo contra si mesmos e solicitando-nos amparo.
Sentem-se vivos, tão vivos, como na época em que se embebedaram de mentira, fascinação e poder.
O tempo e a vida correm para diante, por fora deles, mas, por dentro, imobilizaram a própria alma na fixação mental de imagens e interesses, que não mais existem senão no mundo estreito desses infelizes irmãos.
Querem apreço, consideração, apoio, carinho...
Não pedimos a vocês estimular-lhes a fantasia, contudo lembramos a necessidade de nossa tolerância, para que lhes possamos contornar, com êxito, as complicações e labirintos, dando-lhes, ao mesmo tempo, idéias novas com que empreendem a própria recuperação.
Figuremo-los como prisioneiros, cuja miséria não nos deve sugerir escárnio ou indiferença, mas sim auxílio deliberado e constante para que se ajudem.
Cultivemos, assim, a conversação com os desencarnados sofredores, sem curiosidade maligna, ouvindo-os com serenidade e paciência.
Não nos esqueçamos de que somente a simpatia fraternal pode garantir a obra divina do amor.

José Xavier

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