quarta-feira, 3 de junho de 2009

Alexandre Dumas, Pai

A velha França, berço de notáveis e populares escritores, romancistas e poetas, deu-nos Alexandre Dumas, cognominado - Pai -, a fim de não surgir confusão com seu filho de igual nome e que também, como romancista, se celebrizou principalmente com a "Dama das Camélias".
Alexandre Dumas, pai, foi talvez o mais fecundo dos dramaturgos românticos, bastando dizer-se, como índice de sua produtividade, que em vinte anos compôs 400 romances e 35 dramas, isto sem se levar em conta artigos, poesias e crônicas que ficaram perdidos.
Sua obra "Os Três Mosqueteiros" alcançou êxito universal, o que por si só seria suficiente para consagrá-lo.
Alexandre tinha quatro anos de idade, quando seu pai desencarnou. O garoto, ao sair da câmara mortuária, avançou em direção a uma escada de acesso ao andar superior, arrastando um rifle. Dizem que sua mãe o interpelara sobre o que ia fazer.
- Vou para o Céu, vou brigar com Deus porque ele matou meu pai.
O espírito de Alexandre Dumas, pai, não obstante o cerceamento que experimentava, por força de seu corpo físico ainda frágil, já se revelava, conforme se constatou no decorrer de sua vida, um impetuoso lutador contra as forças insuperáveis.
Aventurou-0se, quando ainda muito jovem e sem dispor de recursos, a empreender uma viagem a Paris, somente para falar ao grande ator trágico Talma. Querer, para ele, era poder. De fato, foi à noite ao camarim desse artista, e o velho ator, encantado com o espírito do jovem, indagou-lhe qual a sua profissão.
- Sou escrevente, disse, de um notário, mas gostaria de ser escritor.
- E porque não? - retrucou Talma. - Corneille começou também como escrevente de um notário!
E o jovem Dumas foi logo dizendo:
-Muito obrigado. E, por favor, não poderia o senhor tocar na minha testa para me dar sorte?
E o velho ator, sorrindo, colocou a mão sobre a fronte de Alexandre, proferindo as seguintes palavras:
- Batizo-te poeta em nome de Shakespeare, Corneille e Schiller.
Dumas não tomou isso como brincadeira, pelo que disse à Talma:
- Hei de provar-lhe e ao mundo inteiro. E será agora!
Foi para a casa e começou a dramatizar o romance de W. Scott, "Ivanhoé".
Alexandre tinha uma maneira muito singular de escrever; jamais se cingiu às regras impostas pelos grandes mestres. Para seu temperamento, ou melhor, para sua sensibilidade mediúnica, "a rigidez clássica não passava de uma camisa de força".
A inspiração foi a fonte mágica de seu gênio. Escrevia de um jato e jamais passava a limpo o que escrevia.
Goethe, o grande Goethe, preocupado com as iniciativas de Dumas, recomendava-lhe moderação. "Não queiras ultrapassar teus mestres. Evita exagerar tua atividade; toda atividade sem método conduz à bancarrota. É preciso que a Arte seja a regra da imaginação para que se traduza em poesia."
Alexandre, porém, não podia compreender estas palavras de Goethe, e não podia compreendê-las porque escrevia sob inspiração mediúnica, e a verdade do que dizemos está nestas suas palavras: "Vivo como os pássaros nas árvores. Se não há vento (isto é, inspiração) deixo-me ficar; se ventas (isto é, se a inspiração sopre sem seus ouvido psíquicos), abro as asas e vou para onde o vento me levar."
Para melhor positivarmos que ele escrevia sob o influxo de forças invisíveis, e em momentos que sua imaginação não podia absolutamente sugerir determinados assuntos, basta citemos esta sua confissão:
- "Minhas mais loucas fantasias saíram muitas vezes dos meus dias nebulosos. Imagine-se uma tempestade - que era seu estado de alma -, com relâmpagos cor-de-rosa."
Há uma passagem da vida agitada desse indomável mestiço, citada por um de seus biógrafos, que é bem um atestado das suas faculdades mediúnicas. É a seguinte:
"À noite, depois de um dia de intenso trabalho, na confecção de seus romances, ceia alegremente: relata a seus amigos o que fizeram suas personagens durante o dia, e, curioso, antegoza só em pensar sobre o que elas iriam fazer no dia seguinte; e quando os outros, de natureza mais débil, se admiravam de semelhante regímen, respondia que absolutamente não se encontrava fatigado. - "Não faço romances nem peças, tudo se faz por si. Não crio histórias. Elas criam-se dentro de mim." Mas como? Nem ele o sabia; em resposta, limitava-se a dizer: -"Perguntai às ameixeira como é que ela dá ameixas!"
Alexandre Dumas era dotado de grande força hipnótica. Certa feita experimentara o seu poder hipnótico com Alexis Didier, célebre sonâmbulo, e tão bom resultado conseguiu, que Didier, depois de despertar, exclamou:
- Toma cuidado! Fosse um pouco mais forte o teu poder eu estaria morto.
Em sua profissão de fé aos vigários da França, encontramos este trecho assaz interessante: "Se, entre os escritores modernos, um existe que tenha defendido o Espiritualismo, proclamando a imortalidade da alma, que tenha exaltado a religião cristã, far-me-eis a justiça de dizer que sou eu."
Sentindo próximo o fim de seus dias na Terra, Alexandre Dumas foi para a casa do filho.
- Meu filho, vim morrer perto de ti.
Depois disso, fez-se taciturno. E quando seus amigos sacudiam a cabeça com tristeza e comentavam que Dumas começara a decair, seu filho redarguia:
- Um cérebro como o de meu pai nunca entra em declínio. Se le se recusa a falar conosco na linguagem de hoje é porque está começando a compreender a linguagem da eternidade!

Sylvio Brito Soares

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