Uma das conquistas mais difíceis do Espírito, ao longo da sua trajetória evolutiva, é a integração das duas virtudes que servem de título a esta crônica.
A seriedade e o bom humor costumam aparecer na intimidade mental de forma mutuamente excludentes quando, no fundo, são traços de personalidade que se completam no processo de nosso definitivo aperfeiçoamento.
Via de regra a seriedade expressa-se na disposição de ânimo para considerar todas as coisas da vida como realmente importantes, dignas de criterioso julgamento, qualquer que seja o modo de se afigurarem ou a maneira de serem interpretadas. Já o bom humor se manifesta como na inclinação para encarar todos os fatos deste mundo com natural contentamento, ainda que os mesmos se mostrem à primeira vista um tanto desagradáveis.
No geral a seriedade chega primeiro à consciência do ser humano esclarecido. Ainda bem, Porque sem ela estacionamos na sombra da irresponsabilidade, pagando cedo ou tarde o preço alto do sofrimento por atitudes descuidosas e procedimentos levianos. Sabemos todos disso, nós espíritas, e aliás a respeito de tal verdade podemos ficar tranquilos, pois somos, essencialmente, pessoas sérias, em que pesem os deploráveis defeitos dos quais continuamos lutando para nos libertar.
O bom humor, porém, é uma aquisição que às vezes custa deveras a ser incorporada em nossa estrutura de caráter. Infelizmente, porque sem eles mergulhamos, em repetidas ocasiões, nas águas turvas de ressentimentos perturbadores, nadando contra a maré do destino.
Necessitamos ser alegres e amáveis. Nenhuma justificativa temos para assumir ares taciturnos, sobretudo nas relações interpessoais, dentro e fora do âmbito espiritista. A fé que abraçamos, racional e lógica, não aprova posturas místicas e alienadas da realidade social, tanto mais saudável quanto espontânea e feliz.
Aprendamos com os nossos maiores. Allan Kardec e Léon Denis, por exemplo, de quem estão vulgarizadas no Brasil fotografias pouco simpáticas, projetando uma aparência quase soturna, foram homens bem-humorados, embora superlativamente sérios.
Gaston Luce, que conheceu ambos de perto, relatando uma palestra de Kardec em Tourane diz que quando o codificador falava sobre obsessão "foram feitas perguntas às quais respondia com fisionomia sorridente". (1) Logo a seguir, acrescenta:
"No dia seguinte, retornei à Spirite-Ville para fazer uma visita ao Mestre; encontrei-o sobre um pequeno banco, junto a uma grande cerejeira, colhendo frutos que jogava para a Sra. Allan Kardec - cena bucólica que contrastava alegremente com esses graves acontecimentos." (2)
Afirma mais Gaston Luce, de Léon Denis, que:
"sua pontualidade no serviço e o escrupuloso cuidado em executar as ordens não alteravam de forma alguma a simplicidade de suas maneiras, sua urbanidade sorridente, seu humor inalterável, apimentado com uma ponta de malícia gaulesa de cunho muito pessoal". (3)
O próprio Allan Kardec, em uma de suas obras básicas da Codificação, oferta-nos este delicioso apontamento:
"Nem sempre basta que uma assembleia seja séria, para receber comunicações de ordem elevada. Há pessoas que nunca riem e cujo coração, nem por isso, é puro." (4)
Como se vê, a seriedade e o bom humor, ao invés de coexistirem como elementos antagônicos na química do crescimento espiritual, são preciosos fios enlaçando a inteligência e o coração no tecido que veste as almas de escol.
(1) LÉON DENIS, O APÓSTOLO DO ESPIRITISMO, de Gaston Luce, tradução de José Jorge, pág. 27 - Edição do Centro Espírita Léon Denis, Rio de Janeiro, agosto de 1989.
(2) Ibidem.
(3) Ib. pág. 28.
(4) O LIVRO DOS MÉDIUNS, de Allan Kardec, Capítulo XXI, Item 233 - Edição da FEB.
Nazareno Tourinho
Via de regra a seriedade expressa-se na disposição de ânimo para considerar todas as coisas da vida como realmente importantes, dignas de criterioso julgamento, qualquer que seja o modo de se afigurarem ou a maneira de serem interpretadas. Já o bom humor se manifesta como na inclinação para encarar todos os fatos deste mundo com natural contentamento, ainda que os mesmos se mostrem à primeira vista um tanto desagradáveis.
No geral a seriedade chega primeiro à consciência do ser humano esclarecido. Ainda bem, Porque sem ela estacionamos na sombra da irresponsabilidade, pagando cedo ou tarde o preço alto do sofrimento por atitudes descuidosas e procedimentos levianos. Sabemos todos disso, nós espíritas, e aliás a respeito de tal verdade podemos ficar tranquilos, pois somos, essencialmente, pessoas sérias, em que pesem os deploráveis defeitos dos quais continuamos lutando para nos libertar.
O bom humor, porém, é uma aquisição que às vezes custa deveras a ser incorporada em nossa estrutura de caráter. Infelizmente, porque sem eles mergulhamos, em repetidas ocasiões, nas águas turvas de ressentimentos perturbadores, nadando contra a maré do destino.
Necessitamos ser alegres e amáveis. Nenhuma justificativa temos para assumir ares taciturnos, sobretudo nas relações interpessoais, dentro e fora do âmbito espiritista. A fé que abraçamos, racional e lógica, não aprova posturas místicas e alienadas da realidade social, tanto mais saudável quanto espontânea e feliz.
Aprendamos com os nossos maiores. Allan Kardec e Léon Denis, por exemplo, de quem estão vulgarizadas no Brasil fotografias pouco simpáticas, projetando uma aparência quase soturna, foram homens bem-humorados, embora superlativamente sérios.
Gaston Luce, que conheceu ambos de perto, relatando uma palestra de Kardec em Tourane diz que quando o codificador falava sobre obsessão "foram feitas perguntas às quais respondia com fisionomia sorridente". (1) Logo a seguir, acrescenta:
"No dia seguinte, retornei à Spirite-Ville para fazer uma visita ao Mestre; encontrei-o sobre um pequeno banco, junto a uma grande cerejeira, colhendo frutos que jogava para a Sra. Allan Kardec - cena bucólica que contrastava alegremente com esses graves acontecimentos." (2)
Afirma mais Gaston Luce, de Léon Denis, que:
"sua pontualidade no serviço e o escrupuloso cuidado em executar as ordens não alteravam de forma alguma a simplicidade de suas maneiras, sua urbanidade sorridente, seu humor inalterável, apimentado com uma ponta de malícia gaulesa de cunho muito pessoal". (3)
O próprio Allan Kardec, em uma de suas obras básicas da Codificação, oferta-nos este delicioso apontamento:
"Nem sempre basta que uma assembleia seja séria, para receber comunicações de ordem elevada. Há pessoas que nunca riem e cujo coração, nem por isso, é puro." (4)
Como se vê, a seriedade e o bom humor, ao invés de coexistirem como elementos antagônicos na química do crescimento espiritual, são preciosos fios enlaçando a inteligência e o coração no tecido que veste as almas de escol.
(1) LÉON DENIS, O APÓSTOLO DO ESPIRITISMO, de Gaston Luce, tradução de José Jorge, pág. 27 - Edição do Centro Espírita Léon Denis, Rio de Janeiro, agosto de 1989.
(2) Ibidem.
(3) Ib. pág. 28.
(4) O LIVRO DOS MÉDIUNS, de Allan Kardec, Capítulo XXI, Item 233 - Edição da FEB.
Nazareno Tourinho
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