domingo, 3 de maio de 2009

O Problema do Celibato no Espiritismo


Há ainda o problema da poligamia, que o Espiritismo encara historicamente, lembrando que o casamento, com responsabilidades sociais definidas, superou as experiências poligâmicas do passado. Toda essa posição espírita está perfeitamente de acordo com as leis vigentes no mundo atual. Os movimentos atuais do próprio clero católico pela abolição do celibato sacerdotal e as concessões feitas pela Igreja em numerosos casos, confirmam a necessidade crescente de uma revisão pela Igreja dessa instituição contraditória em que ela se colocou, dividindo sua posição em duas medidas antagônicas: casamentos de clérigos na Igreja do Oriente e celibato obrigatório no Ocidente. O celibato das freiras é uma herança da castidade obrigatória das vestais romanas, sujeitas a serem enterradas vivas se violassem o voto. E interessante lembrar que as vestais, que mantinham o fogo da deusa Vesta nos templos, podiam casar-se sem perigo ao completar 30 anos de idade. As medidas contrárias às leis naturais, que são as leis de Deus, tendem a desaparecer com a evolução cultural, moral e espiritual da Humanidade.

Dizia o Apóstolo Paulo que há eunucos feitos pelos homens e os que se fazem eunucos por amor ao Reino de Deus. Há também os que nascem eunucos. Aplicando-se isso aos nossos dias podemos dizer que há celibato forçado por deficiências orgânicas congênitas, por acidentes mutiladores e pelo desejo de servir a Deus. Mas o Espiritismo, colocando os antigos problemas místicos e as velhas superstições religiosas à luz da razão, nos mostra a contradição da suposta dedicação a Deus através de violações egoístas das leis naturais. Se há, por assim dizer, todo um dispositivo natural de desenvolvimento das potencialidades humanas através de lento e complexo processo evolutivo, como pode o homem, sujeito a esse processo, fechado em suas exigências condicionantes, querer modificá-lo, corrigindo Deus? A quem aproveita o sacrifício de uma jovem saudável na cela de um convento ou a negação por um jovem da sua própria virilidade? O móvel dessas atitudes se revela na ambição egoísta de conquistar o céu para gozo próprio, adiantando-se aos demais e escapando às leis do processo evolutivo natural. Todas as formas de auto-flagelação, cilícios, absteração exagerada, isolamento e quietismo são fugas à realidade que todos devem enfrentar, no cumprimentos dos deveres inalienáveis de solidariedade humana e amor ao próximo. E toda fuga é um ato de desobediência à vontade divina.

José Herculano Pires

Um comentário:

  1. Mesmo entendendo o celibato como desnessessário ao serviço de Deus ou Vida, existem pessoas que enveredam por ele involuntariamente, mesmo que aspirando constituir família... Como explicar um caso desta natureza?

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